“Se a
impressão é a arte negra, o design de livro pode ser a arte invisível.” – Richard Hendel
Ultimamente ando pensando bastante no produto livro, sempre
gostei de ler, nem sempre gostei dos ditos “clássicos”, antes da faculdade a
obra mais complexa que havia lido por fruição foi O Senhor dos Anéis. O gosto
por Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa veio com a faculdade,
com leituras orientadas e um amadurecimento meio forçado, mas muito valioso.
Mesmo tendo uma relação com o livro enquanto conteúdo,
nunca refleti sobre a importância de uma boa tipografia, de uma boa impressão e
de um design bem pensado. Em minhas reflexões, me deparei com o fato de que não
se pode fazer um bom livro apenas com uma boa história, percebi a importância
de um design que complete a obra, uma tipografia que também ajude a expressar e
compor a obra e não pense somente na leiturabilidade e na legibilidade, de uma
impressão que componha um elemento que aumente a imersão do leitor na obra e,
por fim, um design bem pensado de um artista que conheça de fato a obra e seu
autor, essa construção tem que resultar em uma verdadeira obra de arte, um
livro que não é “apenas” uma boa história, mas uma experiência imersiva, algo
que se possa saborear com vários sentidos.
O modo como essa obra é construída é muito diferente e
raramente o leitor que compra seu livro na internet ou nas livrarias se da
conta do processo, muitas vezes achamos que o autor é o maior herói e único
responsável pelo produto em nossas mãos, mas gostaria aqui de puxar a sardinha para
a importância do editor nesse processo. É ofício do editor se envolver em todo
esse processo, el@ precisa ter um tino, um instinto para avaliar talentos,
saber escolher aquele original sem ser influenciado pelos gostos pessoais e
modinhas passageiras, trabalhar junto ao autor pra melhorar o texto, a trama e
tudo mais, saber escolher qual papel é mais apropriado para o livro, se existe
alguma alternativa para usar esse elemento para agregar um à obra, ter um
olhar crítico para o projeto de design do livro, sabendo quando rejeitar aquele
projeto que é bom, mas não é o melhor e tendo uma percepção aguçada para o
projeto que casa com o texto. Daí então tem todo o trabalho de lançamento,
distribuição, organização da agenda do autor nas tardes de autógrafo, nas
bienais e feiras do livro, tem que saber vender o livro para o representante da
distribuidora, para que ele saiba vender bem para os livreiros, a partir daí é
acompanhar e ver onde dá.
Sem a presença dos editores, muitas obras que o
público nerd ama não chegariam até nós, pense em quantas vezes Harry Potter
fora rejeitado por diversas editoras que não viram valor na obra por ela não
estar dentro do padrão consumido em sua época, pense no editor
maluco/visionário que publicou O Senhor Dos Anéis mesmo sendo um romance
totalmente fora da estrutura clássica que a maioria dos editores buscam até
hoje, graças aos bons editores que as boas estórias chegam até nossas estantes,
por eles e para eles escrevo agora esse texto, como um agradecimento, uma
homenagem a esses heróis sem capa que trabalham noite e dia para nos trazer
todos esses livros que mudam nossas vidas. Vocês sãos os artesãos da arte
invisível.
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