7 de março de 2016

Que país é este? #1

É a “era da informação”. Somos bombardeados de informação.


Estamos todos conectados. É a “era da comunicação”.


A cada dia, nos jornais, um escândalo novo, uma nova operação da PF, um personagem novo. Não conseguimos montar sequer um quebra-cabeça com todas as peças que nos dão. Mas tudo bem: parece que nem a PF consegue.



Alguém se lembra de quem estava no banco dos réus há 3 meses? Qual era o teor da delação premiada de dezembro? Nem a PF se lembra.


Não importam os conteúdos, importam as performances. É tudo teatro. E na era da informação e da comunicação, o teatro é uma arma implacável.


Não está em jogo a corrupção; está em jogo o poder. Não interessa detetizar o Estado; interessa retomá-lo.


Recuperado o controle sobre o Estado, a corrupção não será abolida; ela será esquecida, escamoteada. De novo.


O teatro faz parecer que é tudo uma questão ética, de combate a vilões, que a solução está em tirar fulano ou ciclano do poder. A exploração exaustiva do argumento da corrupção forçosamente joga para o segundo plano as discussões que importam, fundamentais, crônicas: perto do protagonismo dado à Lava-Jato a Reforma Política, por exemplo, nem como coadjuvante aparece mais nos jornais e nas mesas de bar.


A cumplicidade da grande mídia com o teatro da corrupção inspira mais indignação que a própria corrupção. Porque se ela se tornou o 4º poder da República, que preze pelo mesmo valor que norteia os outros três: o progresso do país, não o conservadorismo. Se não se pode exigir dela (nem de ninguém) imparcialidade, esperamos dela, no mínimo, honestidade. Que as manchetes não sejam seletivas, que os crimes dos amigos não sejam acobertados (ainda bem que a internet nos deu imprensa independente!).


Já devíamos saber, mas parece que é preciso lembrar: não é que a corrupção, no Brasil, não exista; é que aqui ela não significa o mau uso do poder, aqui ela FAZ PARTE do poder. Ela SEMPRE foi parte INERENTE da política nacional. Sem ela, o sistema simplesmente NÃO funciona. Sem mensalões as câmaras legislativas não legislam. Sem loteamento dos cargos públicos e nepotismo coalizões NÃO são feitas. Sem desvio de dinheiro público obra alguma é executada. Sem enriquecimento ilícito projeto algum é aprovado.


Governabilidade: palavrinha mágica que, mesmo antipática, não pode ser ignorada. Ela é o coração da política. E a corrupção é o seu combustível.


O Estado é uma fonte de riquezas com as quais remunerar os aliados que garantem a governabilidade. Quem tem o Estado dá as cartas. Um partido apropriou-se dele e, há 13 anos, dá as cartas. Outros partidos estão cansados de se sentirem excluídos desse jogo ou de serem nele meros “decorativos” e querem dar eles próprios as cartas. Por que? Como? Com quais intenções? É isso o que precisamos discutir.


Controlar a massa é a chave pra vencer o jogo político. E é por isso que governar para ela é a maneira mais segura de manter o poder. Quem não quer fazer isso faz teatro e tenta entreter, distrair, manipular a massa. E, longe das câmeras, emprega a violência para controlá-la.


Mas para nós, massa, o que importa tudo o que os jornais noticiam sobre a corrupção? Nada! Não há esquemas sendo descobertos; há enredos, intrigas sendo criadas. Tomemos cuidado com o teatro.


O que podemos fazer, então, para escapar às táticas de controle?


Só consigo vislumbrar uma saída: esquecer o teatro e nos concentrar em nossas vidas. Ignorar a virtualidade das manchetes, sempre cheias de meias-verdades, de indícios dúbios tornados provas inquestionáveis, de delações “premiadas” (meu deus! Alguém consegue parar para pensar e perceber o quanto é perigosa essa ferramenta de investigação?), de fofocas, intrigas. E prestar atenção nos dados que nossas vidas nos oferecem. Tomar doses cavalares de realidade.

É isso o que eu tentarei fazer aqui, a partir deste texto: refletir sobre nossa política e sobre como seus elementos podem jogar com as nossas vidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário