2 de junho de 2015

DEVANEIO NERD #2: A EFÊMERA, PORÉM INTENSA VIDA DE ÁLVARES DE AZEVEDO



(Álvares de Azevedo)











“A luz que brilha com o dobro da intensidade brilha metade do tempo” – Tyrell (Blade Runner)

Gostaria de falar um pouco sobre a vida de Álvares de Azevedo, um poeta do romantismo que gosto bastante porque, além de ter sido importantíssimo na história da formação literária brasileira, era a encarnação das concepções poéticas românticas.

Pra começar, gostaria de fazer uma pequena introdução sobre o romantismo e sobre como esse movimento artístico chegou ao Brasil. A escola romântica surgiu no século XVIII trazendo grande mudança em relação à escola anterior, o neoclassicismo (ou arcadismo), a grande diferença entre as duas nos é esclarecida por José Luís Jobim; “Enquanto no Arcadismo havia uma atitude de seguir as normas neoclássicas, no Romantismo não há preocupação em seguir nenhuma regra ou modelo anterior”, é perceptível que o romantismo é extremamente marcado pelo rompimento com as normas e modelos neoclássicos.

O romantismo chegaria ao Brasil no início do século XIX, momento em que o país estava passando pelo desenvolvimento da sua identidade nacional, intensificado pelo processo de independência no ano de 1822. Daí surgiria toda uma geração de autores e intelectuais brasileiros que transformaram o nacionalismo literário em um movimento, influenciando o que o teórico literário José Emílio Major Neto definiria como a “maturidade civilizatória” do país.




Falando finalmente de Alvares de Azevedo, vale destacar que fora um dos maiores destaques do romantismo brasileiro. Considero-o a encarnação das concepções poéticas tanto pela forma como viveu quanto pela maneira que morreu, partira deste mundo prematuramente, a exemplo de vários outros poetas de sua geração, vitimado pela tuberculose e atormentado pelas constantes frustrações amorosas, altamente associadas a suas obras.

“O destino trágico de Álvares de Azevedo mimetiza de maneira muito direta as concepções da poética romântica sobre o artista como um ser marcado pelo infortúnio e pelo destino trágico, ou seja, um ser assinalado por uma sensibilidade surpreendente e incapaz de conviver com as contradições de um mundo cada vez mais indiferente à poesia, e que faz do poeta um pária social.” (Citação de José Emílio Major Neto, a íntegra pode ser conferida em um dos textos indicados ao fim do artigo)

Foi um poeta que viveu duas fases, a primeira angelical e pura, já a segunda foi devassa e boemia. A mudança se deve grandemente ao seu envolvimento com a “Sociedade Epicuréia” durante o período em que frequentou a faculdade de direito em São Paulo, que naquele momento era o epicentro da atividade literária da época. A Sociedade Epicuréia foi um grupo que reuniu estudantes de Direito paulistanos e foi composto por nomes como Francisco Otaviano, Aureliano Lessa, Bernardo Guimarães, Álvares de Azevedo, entre outros. (Calma, que ainda pretendo tratar da Sociedade Epicuréia com mais cuidado em outro texto)




A mudança constituiu-se da substituição do amor idealizado, amplamente visto no arcadismo pelo amor doentio, no caso de Álvares de Azevedo, por vezes incestuoso quando se tratava de sua obsessão pela mãe e a irmã, como o observa o teórico Moisés Massaud: “Substituem o amor-medo, feminóide, pelo amor doentio, vicioso, fruto de neuroses ou de ‘paraísos artificiais’”.

Que importa que o anátema do mundo
Se eleve contra nós,
Se é bela a vida num amor imenso
Na solidão – a sós?
Se nós teremos o cair da tarde
E o frescor da manhã:
E tu és minha mãe, e meus amores
E minh’alma de irmã?

(A.  De Azevedo)

Essa mudança trouxe um clima altamente depressivo para o poeta, mas por outro lado, esse segundo momento, altamente byroniano e ultra-romântico, é um marco revolucionário em que aconteceu o rompimento do autor com a tradição setecentista neoclássica.

Também se fez presente uma atmosfera altamente fúnebre, ao mesmo tempo em que os jovens escritores tentavam fugir do chamado “mal do século”, que nada mais era do que um pessimismo grave e sensação constante de perda, um sentimento de tédio, melancolia e sofrimento profundo sem causa aparente e que resultou na obsessão do poeta pelo fim.

Tu foste como o sol; tu parecias
Ter na aurora da vida a eternidade
Na larga fronte escita . . .
Porém não voltarás como surgias!
Apagou-se teu sol da mocidade
Numa treva maldita!

(A.  de Azevedo, “Um cadáver de poeta”)

Qu’esperanças, meu Deus! E o mundo agora
Se inunda em tanto sol no céu da tarde!
Acorda, coração!. . . Mas no meu peito
Lábio de morte murmurou: – É Tarde.

(A.  de Azevedo, “Virgem Morta”)

Para mim, Álvares de Azevedo foi, de fato, um poeta ímpar e essencial para a revolução que foi a escola do romantismo no cenário nacional brasileiro, pois o mesmo viveu os seus preceitos de tal maneira, que sua obra é interpretada por muitos como quase biográfica, mas como viveu sua vida de forma intensa, acabou por falecer de maneira prematura.

Quer saber mais sobre o tema desse Devaneio Nerd? Confira as indicações!

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos e Poesias Diversas. São Paulo. Ateliê Editorial. 1999.
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos e Poesias Diversas. In: MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira, volume I. Romantismo. São Paulo. Editora Cultrix. 2001.
FALBEL, Nachman. Os Fundamentos Históricos do Romantismo. In: O Romantismo. GUINSBURG. J. Perspectiva, 1978.
JOBIM, José Luís. Introdução ao Romantismo: Subjetivismo. Rio de Janeiro. Editora da UERJ. 1999.
MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira, volume I. Romantismo. São Paulo. Editora Cultrix. 2001.
NETO, José Emílio Major. Apresentação e Notas. In: AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos e Poesias Diversas. São Paulo. Ateliê Editorial. 1999.


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