Perpétuos da esq. p/ dir.: Delirium, Morte, Destruição, Sonho, Destino, Desejo e Desespero. |
Sandman é um dos quadrinhos mais conceituados da história dessa mídia. Entre a legião de fãs temos nomes como Stephen King e Claire Danes, mas o mais incrível feito do título é ter lançado o nome do autor Neil Gaiman em escala mundial.
“Ergamos um
brinde aos amigos ausentes, amores perdidos, velhos deuses e à Estação das
Brumas, e que cada um de nós sempre conceda ao diabo o que lhe é merecido” –
Neil Gaiman
Sandman
nos conta a história do perpétuo, Sonho, também chamado de Morpheus, o senhor
do Sonhar. Sonho (Dream) é um dos sete perpétuos, seus irmãos são o Destino
(Destiny), Desejo (Desire), Desespero (Despair), Delirium (Que já foi Deleite,
ou Delight), Destruição (Destruction) e por fim, a Morte (Death). Essa antropomorfização
de conceitos e ideias é a marca registrada de Neil Gaiman, vide Deuses
Americanos, que é outra obra famosa dele, e com esse título, publicado pela
Vertigo, que é um selo da DC Comics, Gaiman foi capaz de misturar mitologia e
um pouco de horror ao universo da editora, na verdade é até um pouco estranho
pensar que o Sonho e seus irmãos habitam na mesma realidade que a Liga da
Justiça.
Sandman – Noites Sem Fim foi o primeiro quadrinho da história a entrar para
lista de livros mais vendidos da New York Times. Essa edição foi publicada como
um álbum gráfico e ficou marcado pela revisita de Neil Gaiman, depois de longos
setes anos, a esse universo que ele criou. A obra é dividida em sete capítulos,
um para cada perpétuo, cada parte é ilustrada por um artista famoso no meio da
arte sequencial: P. Craig Russel (Morte), Milo Manara (Desejo), Miguelanxo
Prado (Sonho), Barron Storey (Desespero), Bill Sienkiewicz (Delirium), Glenn
Fabry (Destruição) e Frank Quitely (Destino), por fim Dave McKean integra o
time sendo o responsável pelo design e pela capa do álbum.
O
resultado desse trabalho é um encadernado de capa dura incrível, publicado e
distribuído no Brasil pela Panini Comics, a edição brasileira contou com a
excelente tradução de Jotapê Martins, que é um grande nome no cenário nacional
de quadrinhos e fez um excelente trabalho traduzindo e adaptando a obra com o
mínimo de perda cultural, o que é difícil tendo em vista o conteúdo da revista,
que é bastante artístico e autoral.
Morte/Death |
O
primeiro capítulo, intitulado Morte e
Veneza, nos conta a história sobre a relação entre a Morte e um dia de
duzentos anos atrás, um dia que nunca termina. A Morte é a minha predileta
entre os perpétuos, ao contrário do que se imagina, ela é a mais alto-astral e
humana dos perpétuos, fazendo, durante a leitura, com que tenhamos um
entendimento maior sobre a morte em nossas vidas, e por fim, acabamos amando a Morte,
e como não amar, afinal, ela nos ama também. Seu visual se baseia na cantora de
Punk Rock Susie Sioux, o que a deixou com uma cara bem gótica, toda essa
mistura deixa a personagem extremamente carismática. A arte de P. Craig Russel
é simples, mas bonita, ele faz um bom uso de paletas de cores diferenciadas
para determinar e dar clima a cada tempo e ambiente retratado e serve bem à
história, que trata um pouco de aventura, rebeldia, negação, mas, acima de
tudo, fala de amor.
Desejo/Desire |
O que Experimentei do Desejo conta uma história de amor, em que uma jovem em tempos
imemoriais aprende tudo sobre Desejo, inclusive que conseguir o que se deseja
não significa ser feliz. Desejo não é nem de longe um dos meus perpétuos
favoritos, contudo, isso não quer dizer que ele seja desinteressante, Desejo é
um ser de traços andróginos, justamente para representar a dualidade do desejo
sexual, e além de ser o próprio desejo, ele tudo deseja, afinal, segundo o
mesmo, “o que mais se pode querer?”. A arte desse capítulo é assinada por Milo
Manara, acho uma escolha bem pensada, tendo em vista que Manara é famoso por
seus quadrinhos eróticos, contudo, acho sua arte um pouco problemática pelo
excesso de ícones fálicos, creio que esses ícones nada acrescentam para a
história e deixam um leve incômodo presente na leitura do capítulo.
Sonho/Dream (Esq.) e Killalla do Fulgor (Dir.) |
Aqui temos Killalla começando a explorar a energia verde |
O
capítulo seguinte é O Coração de uma
Estrela, essa história nos mostra a aurora do nosso universo, quando os
sóis falavam e os perpétuos ainda eram jovens. Sonho é quem nomeia o título,
ele é um personagem bem bacana por ser mais interessado nos mortais, por
amá-los e lhes dar esperança, contudo, apesar dele ser esperança, Sonho é um
tanto melancólico e foi muito rígido, até um pouco perverso eu diria, em sua
juventude, mas outra coisa que o diferencia de seus irmãos é o fato de que ele
aprende com seus erros e muda com o passar das eras, se tornando mais ameno. Essa
história nos traz Sonho como protagonista, contudo, a história principal não gira
totalmente em torno dele, mas de sua amada Killalla do Fulgor, do planeta Oa,
isso mesmo, o lar dos Lanternas Verdes. Esse capítulo também nos mostra a
primeira Desespero e a Deleite muito antes de se tornar Delirium, além de se
passar antes de Destruição rejeitar o que ele é. Miguelanxo Prado nos mostra
aqui maravilhosas paisagens cósmicas muito bem pintadas, além de um traço fino
no contorno de seus personagens, de fato trata-se de uma arte muito agradável
aos olhos.
Desespero/Despair |
Quinze Retratos de Desespero não é um quadrinho comum, ele não tem um enredo,
mas reúne uma série de situações que retratam, por meio de figuras abstratas
mescladas a textos, a Desespero em diversas situações no cotidiano dos seres
humanos, desde o momento em que somos julgados por algo que não cometemos, até
o momento que percebemos que toda a alegria se retirou de nossas vidas e deu
lugar a ela, Desespero. A personagem figura como um dos perpétuos que eu mais
gosto, ela pode não ter boa aparência, mas é extremamente interessante por ser
magistralmente escrita por Gaiman e genialmente ilustrada por Barron Storey
nessa história, que é a minha preferida do álbum. Considero a leitura desse
capítulo algo obrigatório para qualquer um, independente de ser fã de
quadrinhos, pois essa história transcende a mídia e toca os corações de maneira
única.
Delirium |
Em
seguida temos a história de Delirium, Entrando
trata de um resgate um tanto estranho, executado por uma equipe improvável.
Delirium está entre minhas preferidas também, ao lado da Desespero (as duas
personagens são bem próximas, inclusive) e da Morte, ela é a mais jovem dos
perpétuos e quase sempre é deixada sob tutela de um de seus irmãos. O motivo de
eu gostar tanto das histórias em que ela aparece é o fator de nonsense que ela traz consigo, não
existe linearidade ou lógica que segure Delirium e isso é uma delícia, quase
sempre suas histórias são uma explosão de cores e no fim, acho que a personagem
acaba trazendo uma dose de esperança para os loucos e desajustados. Entrando, por meio da arte de Bill
Sienkiewicz, conta uma história muito bonita, mas de leitura difícil já que
tudo ali é maluco e delirante, você provavelmente vai precisar ler umas duas
vezes para conseguir entender bem o que aconteceu e quem era quem ali, mas vale
muito a pena por ser um jeito diferente de contar uma história, o uso das cores
e diferentes tipografias expressam muito bem a atmosfera caótica do capítulo.
Destruição/Destruction |
O
penúltimo capítulo é o Na Península,
que tem Destruição como protagonista. Aqui vemos um dado momento em que
arqueólogos descobrem um campo de escavação bem confuso, por possuir artefatos
do futuro ao invés do passado, a esta altura sabemos que Destruição e Delirium têm
alguma relação com o lugar, mas que relação é essa você só saberá lendo o
quadrinho. Destruição é um perpétuo interessante porque o mesmo abdicou de ser.
Ele não só significa como é a própria destruição, contudo, não é isso que ele
quer para si, em dado momento ele deixa seus irmãos e vem para a Terra conviver
com os mortais e fugir de sua essência, mas isso não dá muito certo. A arte de
Glenn Fabri não traz nenhum destaque, ela é simples, mas funcional, sem nenhuma
característica que o distingue dos outros.
Destino/Destiny |
Concluindo
o álbum, temos Noites Sem Fim,
história que retrata o mais velho dos perpétuos, Destino. O capítulo faz uma
descrição de quem é e o que significa Destino, nos mostrando seus motivos e
seus mistérios enquanto o personagem caminha pelos corredores e jardins de seu
castelo. Destino é tão misterioso quanto deve ser, nem ele mesmo sabe tudo que
ele significa, ele vive acorrentado a um livro onde está escrito tudo que foi,
é e será, mas não pode lê-lo, pois é cego. Gosto bastante do personagem, gosto
de ouvir o que ele tem a dizer e gosto de suas conversas com a Morte. A arte de
Quitely é muito bonita e traz a neutralidade do Destino em seus tons pasteis,
vale notar a tipografia que lembra a de livros antigos, como se estivéssemos
tendo acesso a uma pequena parte do livro que o personagem carrega, enfim, o
capítulo conclui bem o álbum nos mostrando que Destino continua seguindo em
frente, levando o universo nas mãos.
Sandman
– Noites Sem Fim é um clássico e merece ser lido por todos, o álbum é uma
verdadeira obra de arte que transcende qualquer guerra civil ou outra história
de heróis se batendo ou batendo em vilões. Leia!
Muito bem escrito a resenha! Parabens, adoro sandman.
ResponderExcluirE se eu falar q sonhei com tudo isso e falei o nome da porra desse livro no meu sonho, literalmente aconteceu todo esse resumo cmg, desde a morte e tudo mais, e me lembro do sonho todo q aconteceu nessa msm ordem. Só sei q tô com medo dessa porra, vai se fuder.
ResponderExcluirInclusive acabei de sonhar com essa porra faz 40 mins, e descobri esse quadrinho q nunca tinha ouvido falar na minha vida,por meio de um pergaminho q era entregue para mim no sonho
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